U N I C A M P
Q U E E R
O direito pleno à vida
Gilberto Alexandre Sobrinho
O UNICAMP QUEER surge, em primeiro lugar, como um compromisso da universidade ao direito pleno à vida, com dignidade e respeito, de seus professores, servidores técnicos-administrativos e estudantes LGBTI+, pessoas que compõem a universidade, fazendo parte de suas rotinas diversas. Assim, alinhamo-nos à celebração internacional do orgulho LGBTI+, oferecendo uma série de atividades remotas, online, para que se estabeleça um espaço contínuo de resistência, reflexão, comemoração e discussão de nossas pautas, em sentido amplo.
O estigma da patologização e da criminalização ainda recaem sobre nossa comunidade. Há países que condenam severamente, inclusive com a morte, pessoas que mantém laços afetivos e sexuais com outras do mesmo sexo. No Brasil, mesmo seguindo os protocolos da OMS, que desde 1990 não considera a homossexualidade uma doença, as garantias de direitos aos casais e cônjuges homossexuais, bem como a criminalização da homofobia e transfobia pelo STF e as garantias da Constituição “cidadã” de 1988, ainda vivenciamos alarmantes violências a essa população. Em tempos de pandemia e quarentena duradoura, a preocupação sobre a saúde mental, a sobrevivência e as formas de agressão são reais e requerem mobilização.
“Pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, travestis, queer e intersexuais (LGBTQI) são consideradas as mais vulneráveis e marginalizadas em muitas sociedades, sofrendo discriminação que afeta negativamente todos os aspectos de suas vidas. Devido à pandemia da COVID-19, no momento, as pessoas LGBTQI estão entre as que correm maior risco.” Com essas palavras, num texto publicado em função do 30º aniversário do Dia Internacional contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, 17 de maio de 2020, a Dra. Natalia Kanem, diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), resume o quadro instável e precário de muitas pessoas com orientações sexuais, identidades de gênero, expressões de gênero e características sexuais diversas à heteronormatividade.
Politicamente, vivemos um momento em que as ações e políticas públicas voltadas para a diversidade de gênero e sexualidade, em todos os setores, estão fortemente ameaçadas. Nesse cenário preocupante, em que vidas são precarizadas, a cultura, as artes e o conhecimento científico-acadêmico também sofrem ataques contínuos e desmontes diversos. Esse quadro aponta para a instauração de uma necropolítica generalizada. Em outras palavras, “a capacidade de ditar quem pode e quem não pode viver” (Achille Mbembe) parece estar a serviço de determinações governamentais. Com isso, sujeitos historicamente subjugados podem sucumbir, mas também resistir bravamente ao terror. Refiro-me às populações negras e indígenas e aos sujeitos dissidentes em termos de gênero e sexualidade, bem como, consideram-se os atravessamentos interseccionais que informam sobre graus variados de opressão.
É preciso, portanto, alianças e resistências. No âmbito acadêmico, existimos e construímos conhecimento, saberes, epistemologias. O UNICAMP QUEER reúne, deste modo, um conjunto de atividades, tais como webnários, exposição online e mostra de filmes, que evidenciam o que deveria ser óbvio: sujeitos LGBTI+ são o que quiserem ser e essa posição informa sobre o valor da diversidade na construção de espaços democráticos, na vida social.
Eu quero a vida.
Com todo o riscos
eu quero a vida.
Com os dentes em mau estado
eu quero a vida
insone, no terceiro comprimido para dormir
no terceiro maço de cigarro
depois do quarto suicídio
depois de todas as perdas
durante a calvície incipiente
dentro da grande gaiola do país
de pequena gaiola do meu corpo
eu quero a vida
eu quero porque quero
a vida.
É uma escolha. Sozinho ou acompanhado, eu quero, meu
deus, como eu quero, com uma tal ferocidade, com uma tal
certeza. É agora. É pra já. Não importa depois. É como a quero.
Viajar, subir, ver. Depois, talvez Tramandaí. Escrever. Traduzir.
Em solidão. Mas é o que quero. Meu deus, a vida, a vida,
a vida.
A VIDA
À VIDA
Caio Fernando Abreu